quinta-feira, 24 de novembro de 2011
domingo, 6 de novembro de 2011
Sabe qual o absurdo, mais absurdo em nossas polícias?
Em nosso país, somos em geral leigos quanto a detalhes de nossa segurança pública. A maior parte se limita a opinar sobre as forças policiais, que apesar de pequenas variações de estado a estado, se definem na atuação cotidiana da Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Federal e Guarda Municipal (as mais conhecidas).
Basta ligarmos o noticiário ou reparar nas capas de periódicos e podemos constatar que nossas polícias são atores diários de uma novela interminável, muitas vezes com capítulos dramáticos, com cenas que nos farão sorrir, cenas que nos farão chorar e cenas que nos farão gritar no nosso mais íntimo, um clamor de revolta.
Como somos um povo pouco acostumado com realidades de além-mar. Descendentes de navegantes que não se aventuram economicamente a conhecer novas terras, pouco sabemos sobre como funciona a segurança em outros países. Especialmente países onde ela supostamente dá certo.
Um texto é muito pouco para se analisar historicamente a origem de falhas e acertos de nossas polícias. È pouco também para se deleitar na lógica natural de críticas a um sistema disfuncional, que paga salários indigentes a seus soldados e agentes. Sistema que provê uma estrutura no mínimo vergonhosa a seus esquadrões para lidar com traficantes munidos de mísseis anti-aéreos, bombas iranianas, bazucas russas, etc, etc, e bum..., mais etc. Nossa reverência e honra vão para homens e mulheres que em meio a tão ultrajante disparate, mantêm-se limpos, incorruptos e fièis ‘a sua vocação tão mal recompensada.
Seja como for, tive a oportunidade de conhecer um pouco da estrutura e logística de um bem respeitado sistema de segurança pública atual. Apesar de falhas e defeitos que se tornam inevitáveis a qualquer grande corporação, os anos que vivi nos Estados Unidos, foram o suficiente para reconhecer a eficácia de suas polícias e demais agências de segurança. Comparar as duas realidades (yankee e tupiniquim) é chover no molhado , pois sabemos que um lavador de pratos em Nova York ganha U$1200,00 (+ ou – R$2100,00) reais por mês e muito mais ganha um policial, que tem a seu serviço carros de última geração, computadores de mão, gestão administrativa impecável , entre outros benefícios , e isso somente para o reles policial de rua. Se partirmos para o FBI e demais agências, já´estaremos na categoria de outro planeta , sem dúvida.
Mas desde que voltei, um detalhe me chama a atenção, acima de tudo. Nossas polícias não apresentam, ou pelo menos, é pouquíssimo divulgado sobre qualquer sistema de inteligência em suas bases. Digo isso porque nos E.U.A. , mais do que armas e violência explícita, o sistema policial tem seu maior trunfo na atuação de agentes infiltrados, na eficácia de homens e mulheres que na figura clássica de verdadeiros espiões desmantelam máfias, gangues, cartéis e quadrilhas, na maioria das vezes, sem disparar um único tiro ou derramar uma única gota de sangue.
Mesmo no passado glamoroso da atuação das máfias , dos chefões, da Chicago irremediável, dos donos de Cassinos , da construção de Las Vegas e traficantes de bebida forte, não se tem relato sobre o FBI, ou a SWATT, ou NYPD, ou qualquer força policial subindo as ruas do Bronx de carro blindado, atirando no Brooklyn para tudo quanto é lado. Matando crianças traunsentes, entrando em tiroteio aberto com marginais que não têm nada a perder e que somente ganham com a morte de inocentes, agregando ‘a já maltrapilha imagem da polícia, o status de cruéis exterminadores. “Viva os Godfathers da Rocinha, do Complexo do Alemão, viva os Warlords das Comunidades em São Paulo, viva o sofrimento do povo refém de bandidos patriarcas”.
O que sabemos sobre as polícias do exterior, o que muitas vezes comprovávamos nas matinês de cinema ou nas Sessões da Tarde, era uma atuação orquestrada, acima de tudo , guiada por serviços de inteligência infiltrados, espiões, Donnie Brascos, Homens da Máfia, escutas telefônicas, investigação de suporte acuradas e ataque a focos específicos através de atos surpresa.
Seria tão difícil treinar nossos bravos PMs, Policiais Civis, Federais a se vestir e andar como os marginais? a dançar o Funk , a se tornarem bandidos de mentira (já que alguns se tornam de verdade) por um determinado tempo afim de se misturar em quadrilhas, se tornarem “manos” e “peixes” de chefões, localizar pontos específicos, atingir gols realísticos de extinção da atividade marginal em nossas cidades? Acima de tudo, evitar cenas de batalha a la Oriente Médio em nossas favelas, onde muitas vezes a morte de “civis” supera a dos pseudo-soldados de guerras insanas?
A atuação de tais neo-arapongas (dessa vez, do bem ok? totalmente), poderiam não só evitar as cenas absurdas das subidas de morros e favelas em meio a tiroteios e objetivos indefinidos. Os tais poderiam atuar nas diversas camadas da sociedade, facilitando em muito a profilaxia do crime. O adágio nunca foi tão real num país como o nosso: “É melhor prevenir do que remediar”. São incontáveis as situações em que um serviço de inteligência eficiente poderia ser aplicado. Estatisticamente, milhares, por que não, milhões seriam poupados, na verdade pouparíamos o que de mais precioso temos: nossas vidas. Dentre tantos benefícios possíveis, vou citar duas situações em que me peguei pensando , que, se aplicadas, seria no mínimo muito engraçado.
Que tal policias disfarçados de velhinhas, sacando altas quantias no banco? Enquanto uma “velhinha” sai com o dinheiro, um grupo de policias a acompanha a paisana, a certa distãncia. Em 99,7854% dessas simulações, os famosos “saidinhas” vão aparecer, (velhinhas sacando muito dinheiro = saidinha). Boa oportunidade para pegá-los no flagra, e para deixar bem claro ‘a bandidagem... A sua próxima velhinha pode ser um leão disfarçado , acompanhado de mais 3 ou 4 leões armados.
E por que não, vamos colocá-los também nas cãmaras, nos congressos, municipais, estaduais, federais. Sim, nossos heróis poderiam ser treinados, a usar terno e gravata, a falar com aquela eloqüência empostada e prolixa, debaixo de um bigode a la Justo Veríssimo. Os mesmos poderiam circular livremente pelos saguões de votação. As sessões são sempre muito confusas, duvido que os nobres parlamentares vão se dar conta de gente nova no pedaço. Além de comparecerem pouco a seu trabalho , “trabalham tanto” que com certeza não têm tempo de saber quem é quem em seu cotidiano. Ali mesmo, na arena das negociações de emendas e apoio partidários, no mercado amoral da troca de favores compromissados. Um e outro agente infiltrado, poderia oferecer e receber propina , poderia desmascarar em flagrante as comissões e mensalões nojentos que movem uma máquina de corruptos e patifes, totalmente aversos ao sofrimento e miséria de seu povo.
Infelizmente, é da natureza de nosso povo, ao ler (se é que vão ler) um texto como esse, colocar mil empecilhos, dizendo que não é bem assim, que já existem os serviços de inteligência vigentes nas forças de segurança (cadê??? Sua atuação???), que falta verba, que a lei diz isso e aquilo e aquiloutro.
Lembro-me de , quando adolescente, resolvi levantar uma campanha para acabar com o problema recorrente de escorpiões em minha pequena e pacata cidade. Como não tive apoio em geral, saí sozinho, batendo pernas, de comércio em comércio pedindo assinaturas para “sensibilizarmos” o secretário de saúde da época. Obtive muitos nãos, muita gente riu, zombou de minha iniciativa, mas fiz minha parte, corri atrás e medidas foram tomadas.
Nossa terra está infestada de escorpiões, da corrupção, da marginalidade, desde os pequenos, marionetes em uma sociedade desigual até os gigantes, financeiros e políticos. Tomara possamos desejar ser adolescentes de novo, hoje e para sempre, com muita disposição nas pernas e um sonho insaciável de mudança em nossos corações.
Ray Evangelista
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